segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O cheiro do Design

Teatro, cinema, música, arte; cores, tipos, formas, sensações...

Tudo isso contém, é, possui ou respira Design Gráfico.

Não sou daquelas designers que não se misturam ou que vivem questionando o que pode ou que não pode ser design. Para mim, Design Gráfico é tudo o que comunica visualmente alguma coisa. E essa “coisa” pode ser transmitida pelo olfato. Sim, o cheiro pode ter relação com o Design Gráfico.

Penso também que essa “coisa”, esse “tudo” que se comunica visualmente, pode ser bom ou ruim, feio ou bonito, estar certo ou errado. Tudo depende do ponto de vista, do público, do objetivo, do mercado.

Nestes meus mais de 20 anos de carreira como designer — e mais 10 como professora universitária — trabalho e acredito que devemos sempre agregar, trocar experiências e informações com arquitetos, jornalistas, publicitários, artistas e até advogados ou micreiros. Micreiros, sim... Por que não?!
Não acredito em tabus, em preconceitos ou pré-conceitos. Já aprendi muito com toda essa gama de profissionais e até mesmo com micreiros. Acho que isso é um dos segredos do sucesso.

Não, não entenda como sucesso ser rico e independente financeiramente. Para mim, sucesso não é isso. O sucesso está relacionado à felicidade e ao equilíbrio espiritual.

Digo sempre aos meus alunos que troquem olhares e experiências. Sempre temos algo a aprender e, principalmente, sempre temos algo novo para olhar, ver e aprender a ver. Mesmo que seja algo visto ou revisto milhares de vezes.

Devemos aprender a ver não apenas com a visão, mas além dela. Assim, estaremos mais aptos a criar, recriar, inventar e reinventar qualquer coisa. Sem barreiras, sem vícios e sem tabus.

Há mais de 10 anos, quando estava começando a lecionar na universidade, no curso de jornalismo, deparei com um — até então — problema: um aluno deficiente visual.

Minha primeira reação foi de dúvida, medo, não sabia o que fazer. Afinal, como ensinaria Design Gráfico de jornal e revista para um deficiente visual? Como ensinar linguagem das cores, dos tipos, das formas? Como falar de fotografia, regras dos terços ou ponto áureo? Caminho do Olhar? Ponto de força de uma página? Capa?

Esta foi uma das primeiras barreiras que quebrei. E fiz isso com muita paixão, vontade de ensinar, de aprender e, devo confessar, com certo medo e receio de não conseguir.

Estive com este aluno, esta classe, por dois anos seguidos. Ele foi um dos melhores alunos na minha disciplina. Tinha sempre uma das melhores notas. Muitas vezes ele se emocionou por conseguir “ver” tudo isso o que acabou de comentar acima e eu por conseguir fazer com que ele aprendesse realmente o que era Design Gráfico de jornal e de revista.

Isso foi há muito tempo, e não foi nada fácil, mas sempre uso de exemplo. Aprendi muito com esse aluno. Aprendi muito com jornalismo, com publicidade, com micreiros, com artistas.
Para trabalhar com teatro resolvi aprender com o teatro, subir no palco e atuar. Para trabalhar melhor com música, experimentei cantar e faço isso há seis anos. Para trabalhar com cinema e audiovisual me envolvo cada vez mais com profissionais da área.

Estou escrevendo tudo isso neste primeiro texto para a Zupi porque acho mesmo que um bom Design, seja ele de que área for, só existe sem preconceitos e sem tabus. Somente existe pela junção, pela soma, pela multiplicidade do olhar nas diversas áreas.

Esta multiplicidade, esta diversidade de olhares, é o que pretendo mostrar aqui em nossos encontros quinzenais ou pelo menos tentar transmitir o aroma, a sinestesia do design. Espero que gostem.

Márcia Okida é designer gráfico, vice-presidente da Associação Cultural Vontade de Ver, professora universitária nos cursos de Jornalismo e Produção Multimídia e coordenadora do curso de Produção Multimídia, da Universidade Santa Cecília — UNISANTA
okida@uol.com.br

publicado na revista Zupi -
06/01/2009
http://www.zupi.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3012&sid=6&tpl=view%5Fnews%2Ehtm

Nenhum comentário:

Postar um comentário